Escavações arqueológicas e relatos históricos evidenciam que, o papel da mulher nas sociedades arcaicas era imensamente diverso deste que veio a assumir com o início do cristianismo.
Antes da supremacia da racionalidade e do patriarcado, a mulher era a figura central nas sociedades arcaicas, ao redor da qual regras e valores majoritariamente se estabeleciam. As relações de parentescos, por exemplo, eram determinadas pela matriarca das famílias. Em épocas em que a terra era cultuada como fonte da vida e da prosperidade o ser humano estabelecia uma relação de respeito profundo com seus ciclos, pois essas sociedades arcaicas dependiam principalmente de seus frutos para sua sobrevivência.
Nossos mais remotos ancestrais procuravam ordenar suas vidas e o mundo através da observação destes ciclos da natureza; encontravam na vida externa uma ordenação sagrada para sua própria vivência interna. Passando a compreender que aquilo que se mostra ao redor esta em ressonância com aquilo que vivenciam em seu interior. Ou seja, o microcosmo reflete as ordenações cíclicas do macrocosmo.
Diante desta realidade não fica difícil imaginar o motivo das mulheres serem cultuadas em Vênus cuidadosamente esculpidas ou o de terem seus órgãos genitais expostos em alguns templos religiosos do oriente.
Ao feminino cabe colocar em marcha o principio da criação; a gênese inicia-se em seu ventre. Assim, a mulher é o centro e no ventre está seu maior poder, o poder de gerar.
O ventre é simbolicamente representado pelo jarro, pela taça sagrada, pelo caldeirão alquímico de onde a vida tem início. Além disso, sua estreita relação com os ciclos periódicos da natureza aumenta o mistério que permeia o feminino, como a lua e as marés, está em constante transformação. Seu sangue a renova, a purifica, a vivifica e, principalmente, cria um contato único com a Mãe Terra.
Sem a pretensão de aprofundar-se no tema, mas a título de seqüência histórica, temos o início e a difusão do cristianismo. Marco histórico em que o poder do feminino passa a ser punido, pois agora o homem cinde os valores terrenos dos espirituais, criando um abismo entre o simbolismo do céu (patriarcal) e da terra (matriarcal), onde tudo que a esta estivesse relacionado seria subjugado às mais escuras masmorras do inconsciente. A mulher passa a ser a representação daquilo que o homem teme: a sexualidade, o carnal, o material, a magia e a obscuridade dos sentimentos.
São caçadas, são mortas e condenadas. Os homens caçam, matam e condenam a si mesmos. Projetam no exterior aquilo que não conseguem entender dentro deles mesmos, sentem que seus ideais religiosos e morais podem ser destruídos frente a tais tentações, frente à tentação da comunhão entre os aspectos contraditórios de sua própria personalidade.
Do Sagrado faz-se um abismo, separação entre alma e carne. Entre masculino e feminino. Entre sagrado e profano. Entre o homem e a sua completa humanidade.
Autores como o psicólogo Carl Gustav Jung defendem que no inconsciente de cada pessoa repousa a história de toda a humanidade, assim, nossas ações e nossos anseios não apenas relacionam-se com nossa própria história de vida. Em cada escolha que fazemos subjaz a centelha de toda nossa ancestralidade, todo percurso que até aqui descrevemos está, de certa forma, gravado em nossa memória.
Ainda tocando a superfície da contextualização histórica, avançamos para o advento dos movimentos feministas e ecológicos, que desencadearam uma revolução dos valores vigentes, principalmente nas sociedades ocidentais. Pouco a pouco o feminino retoma sua importância dentro do contexto histórico atual.
Neste momento da história estamos em meio a um processo de resgate, não apenas de valores, mas um resgate mais profundo. O resgate do sentido do Sagrado na mulher, do Feminino Divino que alenta cada respiração, cada movimento, cada intenção em seu Ser.
A mulher encontra diversas maneiras de celebrar esta união consigo mesma, e um destes caminhos pode ser construído através da vivência da dança. O dançar anima nossa alma, seus movimentos nos trazem a liberdade de Ser e sentir.
Diante disso, somos levados a compreender que a procura pela dança, mais especificamente a dança do ventre, não se dá de maneira aleatória ou apenas pela busca do bem-estar, mas sim como um profundo e arraigado anseio pela União consigo mesma, para o despertar do divino em cada feminino que dança e (re-) anima a si mesma.
Mover o ventre é mover a própria historia da humanidade, é trazer luz ao poder do feminino que fora acorrentado nas camadas mais obscuras de nosso inconsciente e do inconsciente coletivo. É ser o próprio recipiente da força e da exuberância da vida.
Mover o ventre é resgatar a inteireza de Ser da Mulher.
*
Sugestões de leitura sobre o tema:
AMAR, M. Dança do ventre, a mais feminina das artes. In http://www.aomestre.com.br/alt/ventre.htm
ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do estado. Brasil : Presença, 1976.
JUNG, C.J. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000.
KARPINSKI, G.D. As sete etapas de uma transformação consciente: ritos espirituais de passagem. São Paulo: Pensamento, 1997.
TAYLOR, T. A pré – história do sexo: quatro milhões de anos de cultura sexual. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
Antes da supremacia da racionalidade e do patriarcado, a mulher era a figura central nas sociedades arcaicas, ao redor da qual regras e valores majoritariamente se estabeleciam. As relações de parentescos, por exemplo, eram determinadas pela matriarca das famílias. Em épocas em que a terra era cultuada como fonte da vida e da prosperidade o ser humano estabelecia uma relação de respeito profundo com seus ciclos, pois essas sociedades arcaicas dependiam principalmente de seus frutos para sua sobrevivência.
Nossos mais remotos ancestrais procuravam ordenar suas vidas e o mundo através da observação destes ciclos da natureza; encontravam na vida externa uma ordenação sagrada para sua própria vivência interna. Passando a compreender que aquilo que se mostra ao redor esta em ressonância com aquilo que vivenciam em seu interior. Ou seja, o microcosmo reflete as ordenações cíclicas do macrocosmo.
Diante desta realidade não fica difícil imaginar o motivo das mulheres serem cultuadas em Vênus cuidadosamente esculpidas ou o de terem seus órgãos genitais expostos em alguns templos religiosos do oriente.
Ao feminino cabe colocar em marcha o principio da criação; a gênese inicia-se em seu ventre. Assim, a mulher é o centro e no ventre está seu maior poder, o poder de gerar.
O ventre é simbolicamente representado pelo jarro, pela taça sagrada, pelo caldeirão alquímico de onde a vida tem início. Além disso, sua estreita relação com os ciclos periódicos da natureza aumenta o mistério que permeia o feminino, como a lua e as marés, está em constante transformação. Seu sangue a renova, a purifica, a vivifica e, principalmente, cria um contato único com a Mãe Terra.
Sem a pretensão de aprofundar-se no tema, mas a título de seqüência histórica, temos o início e a difusão do cristianismo. Marco histórico em que o poder do feminino passa a ser punido, pois agora o homem cinde os valores terrenos dos espirituais, criando um abismo entre o simbolismo do céu (patriarcal) e da terra (matriarcal), onde tudo que a esta estivesse relacionado seria subjugado às mais escuras masmorras do inconsciente. A mulher passa a ser a representação daquilo que o homem teme: a sexualidade, o carnal, o material, a magia e a obscuridade dos sentimentos.
São caçadas, são mortas e condenadas. Os homens caçam, matam e condenam a si mesmos. Projetam no exterior aquilo que não conseguem entender dentro deles mesmos, sentem que seus ideais religiosos e morais podem ser destruídos frente a tais tentações, frente à tentação da comunhão entre os aspectos contraditórios de sua própria personalidade.
Do Sagrado faz-se um abismo, separação entre alma e carne. Entre masculino e feminino. Entre sagrado e profano. Entre o homem e a sua completa humanidade.
Autores como o psicólogo Carl Gustav Jung defendem que no inconsciente de cada pessoa repousa a história de toda a humanidade, assim, nossas ações e nossos anseios não apenas relacionam-se com nossa própria história de vida. Em cada escolha que fazemos subjaz a centelha de toda nossa ancestralidade, todo percurso que até aqui descrevemos está, de certa forma, gravado em nossa memória.
Ainda tocando a superfície da contextualização histórica, avançamos para o advento dos movimentos feministas e ecológicos, que desencadearam uma revolução dos valores vigentes, principalmente nas sociedades ocidentais. Pouco a pouco o feminino retoma sua importância dentro do contexto histórico atual.
Neste momento da história estamos em meio a um processo de resgate, não apenas de valores, mas um resgate mais profundo. O resgate do sentido do Sagrado na mulher, do Feminino Divino que alenta cada respiração, cada movimento, cada intenção em seu Ser.
A mulher encontra diversas maneiras de celebrar esta união consigo mesma, e um destes caminhos pode ser construído através da vivência da dança. O dançar anima nossa alma, seus movimentos nos trazem a liberdade de Ser e sentir.
Diante disso, somos levados a compreender que a procura pela dança, mais especificamente a dança do ventre, não se dá de maneira aleatória ou apenas pela busca do bem-estar, mas sim como um profundo e arraigado anseio pela União consigo mesma, para o despertar do divino em cada feminino que dança e (re-) anima a si mesma.
Mover o ventre é mover a própria historia da humanidade, é trazer luz ao poder do feminino que fora acorrentado nas camadas mais obscuras de nosso inconsciente e do inconsciente coletivo. É ser o próprio recipiente da força e da exuberância da vida.
Mover o ventre é resgatar a inteireza de Ser da Mulher.
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Sugestões de leitura sobre o tema:
AMAR, M. Dança do ventre, a mais feminina das artes. In http://www.aomestre.com.br/alt/ventre.htm
ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do estado. Brasil : Presença, 1976.
JUNG, C.J. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000.
KARPINSKI, G.D. As sete etapas de uma transformação consciente: ritos espirituais de passagem. São Paulo: Pensamento, 1997.
TAYLOR, T. A pré – história do sexo: quatro milhões de anos de cultura sexual. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
Imagem: "Elemental" Arte Digital - Sandra Honors
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